Um Chamado ao Arrependimento: O Estado Atual da Igreja à Luz da Declaração de Cambridge

Em 2026 a Declaração de Cambridge completará 30 anos. O que era um alerta de tsunami, hoje é uma inundação lamacenta.

REFORMA PROTESTANTE

Raniere Menezes

12/16/20253 min read

A Declaração de Cambridge foi elaborada pela Aliança de Evangélicos Confessionais em Cambridge, Massachusetts, em 20 de abril de 1996 — Entre os principais nomes envolvidos estavam James M. Boice, R.C. Sproul, Michael Horton, Sinclair Ferguson, David Wells e outros teólogos reformados influentes.

Em 2026 a Declaração de Cambridge completará 30 anos. O que era um alerta de tsunami, hoje é uma inundação lamacenta.

A luz da Reforma está se apagando. Não de forma dramática, mas gradual, quase imperceptível. O termo "evangélico" virou um guarda-chuva tão grande que perdeu qualquer significado real.

O que está acontecendo? Simples: as igrejas estão sendo dominadas pelo espírito deste século, não pelo Espírito de Cristo.

A Cultura Manda Mais Que a Palavra

Vamos ser honestos. Muitas igrejas hoje funcionam como empresas. Técnicas terapêuticas aqui, estratégias de marketing ali, e aquele ritmo frenético do entretenimento permeando tudo. A Palavra de Deus? Ela aparece, claro. Mas será que tem voz de comando? A Palavra de Deus é um cosmético para maquiagem de igrejas mortas. Assim com a Igreja de Sardes. Aparência de vida, mas morta ou adormecida.

Na prática, estamos adaptando a fé cristã para satisfazer consumidores. Sim, consumidores. Transformamos o evangelho num produto vendável e as pessoas em clientes. O sermão virou palestra motivacional. A adoração virou show.

O Centro Está Deslocado

Cristo e sua cruz saíram do centro. No lugar deles, entraram nossas necessidades, nossos desejos, nossa autoestima. O evangelho da prosperidade, o evangelho do bem-estar, o evangelho do "funciona pra mim" — tudo isso reflete uma confiança desmerecida na capacidade humana.

Esquecemos algo fundamental: nascemos espiritualmente mortos. Não somos capazes nem de cooperar com a graça de Deus. A justificação é somente pela fé, somente por causa de Cristo; da Graça. Este é o artigo pelo qual a igreja se sustenta ou cai.

O Evangelho Não É Sobre Marketing

O evangelho declara o que Deus fez por nós em Cristo. Não é sobre o que podemos fazer para alcançar Deus. Não existe evangelho fora da substituição de Cristo em nosso lugar, onde Deus imputou nosso pecado a ele e nos imputou sua justiça, salvação e poder da fé.

Mas hoje? Nossos interesses substituíram os de Deus. Estamos fazendo o trabalho dele do nosso jeito. Transformamos o culto em entretenimento, a pregação em marketing, o crer em técnica, o ser fiel em sentir-se bem, e a consagração em ser bem-sucedido.

Quem É o Soberano no Culto?

Deus não existe para satisfazer nossas ambições ou nossos apetites de consumo. Deus é soberano no culto, não nós. Nossa preocupação deve estar no reino de Deus, não em nossos próprios impérios, popularidade ou sucesso.

Os sermões precisam ser exposições da Bíblia, não expressões de opinião ou ideias da época. A Palavra bíblica — não a experiência espiritual — é o teste da verdade. Não podemos aceitar menos do que aquilo que Deus nos deu.

A Perda É Real

A perda da centralidade de Deus na vida da igreja é comum e lamentável. Como resultado, Deus, Cristo e a Bíblia significam muito pouco para nós e têm um peso irrelevante sobre nossas decisões.

O mundo evangélico está perdendo sua fidelidade bíblica, sua bússola moral e seu zelo missionário. Fomos influenciados pelos "evangelhos" da cultura secular, que não são evangelhos coisa nenhuma. E enfraquecemos a igreja pela nossa própria falta de arrependimento real.

O Caminho de Volta

Não podemos glorificar a Deus se confundirmos culto com entretenimento. Não podemos negligenciar nem a Lei nem o Evangelho em nossa pregação. Não podemos permitir que o afeiçoamento próprio, a autoestima e a autor realização se tornem alternativas ao evangelho.

O chamado é claro: em lugar de adaptar a fé para satisfazer necessidades sentidas, devemos proclamar a Lei como medida única da justiça verdadeira e o evangelho como a única proclamação da verdade salvadora.

A igreja precisa voltar para casa. Voltar para Cristo. Voltar para a cruz. Voltar para a Palavra.

Antes que a luz se apague de vez.

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A Declaração de Cambridge fez críticas contundentes ao estado da igreja evangélica nos anos 1990, argumentando que técnicas de marketing, entretenimento e terapia haviam substituído a pregação bíblica sólida, e que o evangelho estava sendo adaptado para satisfazer consumidores em vez de proclamar a verdade.

É basicamente um chamado ao arrependimento e retorno às raízes doutrinárias da Reforma Protestante.